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Slow food: movimento tem como lema ‘alimento bom, limpo e justo’ para todos

Quando foi a última vez que você questionou o que estava comendo? Com a correria do dia a dia, é bem mais fácil se render ao fast-food, que são aqueles lanches práticos e pobres em nutrientes.

Remando contra essa prática, surgiu o movimento slow food (comida lenta, em tradução livre), criado pelo jornalista italiano Carlo Petrini e outros ativistas, na década de 1980. A ideia questiona o estilo de vida atual, que faz com que seja necessário comer “qualquer coisa” para ser mais produtivo, causando estresse e desequilibrando a saúde.

“A alimentação passou a ser vista como perda de tempo e o fato de não parar para comer, além de prejudicar o paladar dos alimentos, gera também aporte nutritivo menor. O slow food atua promovendo o prazer de saborear uma boa comida e preservar o meio ambiente e a cultura”, destaca Vera Salvo, nutricionista e conselheira do CRN-3 (Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região do Estado de São Paulo).

Princípios do slow food

A comida vai além de uma necessidade básica para a sobrevivência. Os alimentos envolvem diversas dimensões da vida, como questões culturais, ajuda na socialização, envolvem afeto, memória e identidade.

“O que ingerimos pode beneficiar ou prejudicar a saúde do nosso corpo, da mesma forma que influencia a saúde do meio ambiente e das pessoas ao nosso redor. Boa parte da população vive hoje distanciada da produção e origem do próprio alimento, contribuindo para aumentar um vazio sempre mais largo na relação entre o produtor e o consumidor”, destaca Nadia Haubert, nutróloga e professora de pós-graduação da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

O movimento slow food também preconiza que as pessoas optem por uma alimentação mais sustentável, que se interessem em saber a procedência dos alimentos e pensar no meio ambiente ao fazer as suas escolhas alimentares.

“Mais do que comida, o movimento é também sobre pessoas. É sobre valorizar quem faz a comida chegar até nossos pratos, a cultura alimentar e a diversidade que existe de identidades, territórios, conhecimentos atreladas ao simples fato cotidiano de fazer a população comer. Basicamente, é o comer como ato político”, explica Glenn Makuta, do núcleo gestor da ASFB (Associação Slow Food do Brasil).

Segundo Juçara Soledade, nutricionista e docente da UniAteneu (CE), o movimento defende a necessidade de que os consumidores estejam bem informados, que sejam coprodutores do alimento. “Além disso, promove o direito universal à alimentação saudável, de qualidade e a defesa da naturalidade dos produtos alimentares, das diversidades biológicas e culturais ligadas à produção, preparo e consumo”, diz.

Por isso, a qualidade dos alimentos é dividida em três categorias. Veja detalhes, a seguir.

Bom: é preciso respeitar o sabor e aroma dos alimentos e isso é fruto da competência do produtor e da escolha de matérias-primas e métodos de produção, que não devem alterar sua naturalidade. É escolher uma comida saudável que tenha ingredientes reais, que ajudem a abastecer o corpo.

Limpo: o ambiente tem que ser respeitado e devem ser usadas práticas sustentáveis de agricultura. Por isso, o manejo animal, processamento, mercado e consumo devem ser levados em consideração. Cada estágio da cadeia de produção, incluindo o consumo, deve proteger os ecossistemas e a biodiversidade, protegendo a saúde do consumidor e do produtor. Na maioria das vezes, os produtos slow food são orgânicos, ou seja, têm menos conservantes e pesticidas.

Justo: também valoriza a criação de condições de trabalho respeitosas ao homem e seus direitos, ou seja, visa diminuir a exploração dos trabalhadores, respeitando as diversidades culturais e as tradições.

Principais benefícios

Prestar atenção no que está ingerindo melhora a saúde e a qualidade de vida. Entre os benefícios podemos citar:

  • Aumenta o prazer de comer;
  • Melhora a digestão;
  • Ajuda na absorção de nutrientes;
  • Acalma e contribui com a redução de estresse;
  • Aumenta os níveis de hormônios responsáveis pela sensação de saciedade, o que diminui a ingestão de calorias, e na perda de peso;
  • Melhora a relação entre as pessoas, aumentando o vínculo entre a cadeia de produção e a preservação do meio ambiente.

Por onde começar?

Não é fácil mudar e para fazer escolhas saudáveis é preciso planejamento e até mais tempo. Mas não é impossível! As especialistas consultadas por VivaBem destacam que o primeiro passo é resgatar o papel da alimentação em nossa vida. Basicamente, quanto mais você investe no que coloca no prato, maior é o investimento em saúde.

Além disso, é importante pensar que as refeições não são uma “perda de tempo”. Pelo contrário, é neste momento que o corpo está sendo nutrido e saciado. É possível iniciar novos hábitos com mudanças simples, como optar por alimentos sazonais e orgânicos.

Os alimentos sazonais necessitam de menos aditivos químicos, há menor necessidade de adaptações e intervenções tecnológicas em sua produção. Portanto, as verduras, legumes e frutas têm aparência, aroma, textura e sabor melhores, além de um valor nutricional maior.

Geralmente, eles são produzidos por produtores locais, não percorrem distâncias longas desde o momento em que são colhidos até chegar ao prato, o que os torna mais frescos. Além disso, quando os alimentos estão na safra, o preço se torna mais acessível.

Já os orgânicos são alimentos que não têm agrotóxicos. No entanto, o valor costuma ser mais elevado. Isso acontece porque para serem comercializados, precisam ser certificados, além de terem uma escala de produção menor em relação ao cultivo convencional. Por isso, vale a pena conhecer feiras que comercializam esses itens e oferecem preços mais em conta.

“Esses sistemas alimentares que fomentamos é justamente aquele livre de agrotóxicos, produzidos em solos saudáveis e localmente de acordo com a sazonalidade, que fortalece a soberania alimentar e que também é mais saudável para as pessoas e para o ambiente”, diz Makuta.

Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/08/29/slow-food-o-movimento-que-prega-comer-devagar-e-saber-origem-dos-alimentos.htm